A união faz a diferença
Estou hoje digitando sobre um casal que conheci no primeiro ano de trabalho com Agente Comunitário de Saúde. O casal de hoje vou identificá-los como "Turmalina" e "Citrino" (nome fictício para preservar a identidade da pessoa).. Aprendi bastante com esses dois. Quando os conheci eu já possuía outras famílias cadastradas, mas essa marcou o meu dia. As amizades funcionavam assim, mesmo longe do dia de retornar as ruas já visitadas, sempre os moradores me sinalizavam quando surgia uma família nova na área, um doente ou problemas cotidianos que necessitavam de alguma orientação ou intervenção da equipe de saúde. Essa área especifica tinha uma presença forte do tráfico de drogas, situação essa que gerava um cuidado ainda maior no manejo com as famílias assistidas.
Turmalina e seu esposo apareceram em uma tarde de sexta-feira do mês de março do ano de 2005. Ela tinha 27 anos e ele 30 anos. Possuíam 4 filhos (3 meninos e 1 menina), a diferença de idade entre os filhos eram de 2 anos, a menina estava com 11 meses nessa época. Turmalina estava grávida do seu quinto filho e já estava no quarto mês de gestação. Nesse dia, essa nova amiga, aparentava estar cansada, passava das duas horas da tarde quando consegui fazê-la sentar para conversarmos, ai fiquei sabendo que a mesma nem mesmo havia almoçado ainda.
O esposo de Turmalina não estava na residência, havia ido cedo a busca de trabalho com outros homens da rua, já gostei dele sem ao menos conhecê-lo.
Esse dia eu chamei de “A UNIÃO FAZ A DIFERENÇA”. Não consegui ficar parada diante de Turmalina com tanto a fazer e ela cansada e sem comer, vi que ela não possuía um fogão, porém possuía comida para preparar. Eles montaram na beira do barranco um cômodo de palete, foi o que Citrino conseguiu fazer com dois dias de trabalho e pouco material. Vizinhos me relataram que quando o casal chegou, eles escoraram duas telhas no alto, fizeram o fechamento com pano para poderem passar a noite. Essa situação acontecia aqui com freqüência. No dia em que eu estava na casa da Turmalina, como eles já tinham o cômodo, a sua casa, já possuía uma cama de casal com bastantes roupas em cima, um armário pequeno com vasilhas, uma botija de gás, um ventilador, um berço e uma lâmpada que iluminava pouco o ambiente, a água e a energia elétrica de uso geral da casa era proveniente daquele famoso “gato”.
Conversando com Turmalina, perguntei se podia ajudá-la naquela tarde, vi que ela ficou apreensiva no primeiro momento e me respondeu não sem titubear, mas como não desisto fácil, expliquei o que eu poderia fazer e a disse que ali já tínhamos está parceria na comunidade e se eles pretendiam morar por ali, esse gesto é uma troca de gentilezas feita pelos moradores da região. Ela então se animou, perguntei se não teria problema com o esposo e logo ela disse que não, que ele era um homem bom. Eles tinham vindo de uma região onde as coisas estavam difíceis e que o esposo dela tinha um irmão que morava em Vitória-ES e que ele foi quem cedeu o lote para eles recomeçarem a vida por aqui.
"Vi em Turmalina uma mulher com esperança nos olhos, cansada, porém forte".
Fui a casa de três pessoas próximas da casa de Turmalina e expliquei o que eu queria fazer, tenho certeza que elas lembram desse dia. Parecia que todas estavam me esperando, uma veio com uma cavadeira, outra com um enxadão dispostas a fazer um fogão improvisado para eles. Outra trouxe um pouco de comida e caixas de papelão... Ufa! Que tarde! No final tomamos um belo café feito no fogão bravamente confeccionado pela “UNIÃO QUE FEZ A DIFERENÇA”. A Turmalina ficou morando ali por dois anos e três meses. Nos tornamos amigas naquela tarde! Aquele dia nos deixou realizadas. Rsrs, acabei não fazendo o cadastro naquele dia, o fiz somente dois dias depois, foi quando conheci o esposo da Turmalina, Citrino, essa parte conto para vocês depois.
Postado em: 04/10/2018
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Sou Roberta Fernandes Pereira, tenho 49 anos, sou casada, tenho três filhos, moro no bairro Vale do Sol em Viana-ES há 26 anos. Sou Agente Comunitária de Saúde há 14 anos. Minha micro-área faz parte da equipe da Unidade de Saúde do bairro Areinha. "Falar da minha profissão é difícil por sentir as emoções a flor da pele, sei dizer que gosto muito, há dificuldades sim, mas a tempos eu tenho olhado tudo como uma boa oportunidade de por em AÇÃO todo meu conhecimento e assim promover a saúde."